NOSTALGIA
Lembro-me do tempo em que em qualquer cidadezinha do
interior paulista, existiam 3 celebridades: o prefeito, o delegado e o gerente
de banco.
Era notória a referência a este profissional bancário, pois
era exigido um bom grau de estudos, uma vestimenta adequada e um trato com o
público como habilidade que caracterizava o bancário como um profissional
diferenciado e merecedor do destaque na localidade. Afinal, ele fazia muitas
coisas, processos complexos e cuidava do dinheiro de todos na cidade. A
vestimenta (sempre de gravata) era uma das suas marcas registradas, mas o que
chamava mais atenção era sua capacidade de se relacionar com todos na cidade e
acompanhar a vida financeira dos cidadãos da região.
O tempo passou, a tecnologia evoluiu, os processos foram
automatizados, muitos cargos e vagas ficaram pelo caminho, as agências sumiram
e veio então o novo normal. As pessoas passaram a fazer quase tudo pela
internet, desde abertura de contas digitais com o devido compliance, pagamentos
online com segurança e por aí vai.
MUITAS OPÇÕES
Apesar dos processos terem sidos simplificados pela
tecnologia, a variedade de opções de produtos e serviços disponíveis no mercado
financeiro e de novos ofertantes, faz pairar na cabeça do cliente a dúvida de
qual seria a melhor opção para ele?
Isso naturalmente, leva a necessidade da presença de um
especialista para ajudar o cliente no processo desta escolha. Desta forma,
assim como em um restaurante que da noite para o dia passou a ter muitos pratos
no seu cardápio, o mercado financeiro passou a contar com diferentes opções que
faz com que os consumidores precisem cada vez mais deste profissional de
advisory. E certamente, o bancário ou personal banker, como estão chamando
atualmente, fará prevalecer sua experiencia e relacionamento com clientes para
se manter na crista desta nova onda, sendo disputados por fintechs e bancos digitais, tal qual eram pelos bancos
tradicionais até pouco tempo atras. Afinal, o mesmo grande problema continua
para estes agentes financeiros: precisam distribuir seus produtos e serviços e
o bancário deve continuar em parte sendo uma das grandes alternativas para isso,
agora plugados em alguma plataforma digital.
NOVO FORMATO
Mas como se dará este processo ? Fica claro que é um caminho
sem volta a utilização de tecnologias / plataformas digitais que promovam uma
curadoria de produtos, centralizando em uma única plataforma diversos produtos
e serviços de fintechs e bancos concorrentes. Isso deve facilitar bastante o
trabalho do “novo bancário”, ajudando na organização e dando escala ao trabalho
individual dele.
Muitos serão conduzidos a reinventarem suas carreiras
(algumas vezes sendo forçados por uma demissão), a construírem uma nova
trajetória, lançando-se como empreendedores e se tornando pioneiros da próxima
geração de bancários.
O OPEN BANKING CHEGOU
O open banking chegou para revolucionar o mercado financeiro
brasileiro e mundial. Com ele, as informações de cada cliente são
compartilhadas com sua autorização (verdadeiros donos dos seus dados), de forma
segura, via tecnologias como as APIs, entre os diversos agentes do mercado (não
só financeiro, pois lojas de departamento como um magazine agora podem oferecer
produtos bancários).
PORÉM
O atendimento digital é ótimo, quando tudo funciona. Mas quando
temos alguma dúvida, o Chatbot não é a voz ou resposta que mais nos agrada.
Neste momento, só queremos falar com alguém que nos entenda e conheça nosso histórico
(e não só nos chame pelo nome). Volta aquela necessidade da proximidade e do
prazer de falar com alguém conhecido e que tenha um sorriso humano e acolhedor
para nos receber. E isso só se faz com gente.
Por isso, apesar das economias de escala e agilidade no
processo, com os ganhos de produtividade que a tecnologia digital nos traz, o
relacionamento que só o ser humano (o bancário neste caso) é capaz de fazer,
fará toda diferença, mesmo em tempos de Open Banking. Por isso, neste cenário
atual, só o que muda é o compartilhamento dos nossos dados autorizados por nós,
que neste caso nos trará grandes benefícios. Nossa necessidade de falar com um
ser humano do outro lado que conheça nosso histórico de relacionamento, não
mudará e na verdade será facilitado com o advento do Open Banking.
Isso não quer dizer que muitos cargos e vagas não deixarão
de existir. Muitos de nós teremos que
naturalmente nos reinventar, nos associar ou reciclar. Faz parte da vida. Mas
certamente, a necessidade do relacionamento humano não mudará. E o bancário,
associado a uma Fintech ou plataforma digital qualquer, manterá seu prestígio,
caso seja capaz de manter seu brilho nos olhos e continuar mostrando sua
empatia por seu cliente. Afinal, o que nos faz humano no mundo bancário, é
saber sentir a dor que nosso cliente sente.
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